2 de outubro de 2011

Com o coração..

Agora, mesmo que muito nova, mas já passando da fase da vida que dizem que construímos nosso caráter, enxergo, com mais lucidez e calma, quem fui e quem sou. Quem serei é um questão a qual não me atenho mais, já que meu futuro pertence ao sistema, preciso de uma graduação. Mas, distante dessa linha de pensamento, agora talvez entenda os motivos de ter sido a criança, a pré-adolescente e a adolescente que fui e sou.
Ter sido sempre a "filha do", ter tido sempre facilidade para aprender e bom relacionamento. A criança que tinha a família, a igreja, a escola, o mercado, tudo em um mesmo bairro, algumas quadras e uma cidade inteira ao redor. A guria que virou menina quando se mudou para o norte do país, lá ninguém é guria. Lá era uma menina branquinha do sul, quieta, pálida. Uma menina que aprendeu a criar seu próprio mundo. Então, quando voltou para sua cidade, longe daquelas ruas, daquele bairro, já não era mais a guria. Era a menina, e as pessoas não entendiam de onde ela tinha vindo, ela era Rondoniense ou Gaúcha? Foram bons dois e anos e oito meses. Uma escola legal, amigos legais, ela estava virando uma mocinha, já estava na sexta série quando sua vida mais uma vez mudou. Leiti, virou leite. Chocolati, virou chocolate. E a guria, que já estava acostumada a recorrer ao seu mundo quando se encontrava em apuros voltou a sua redoma, até que então descobriu que morar em um lugar que se pode fazer tudo apé não é tão ruim, e dá mais tempo pra conversar e conhecer as pessoas. E ela conheceu. Conheceu uma linda ruivinha, conheceu seus colegas que dividem o mesmo caminho a cinco anos, conheceu o amor, nesse mesmo caminho. Então o seu mundo, e o mundo real já e misturavam de forma natural. Suas ilusões, projeções e sonhos se misturavam com o real caráter e ações das pessoas. Mas então chega uma hora que as coisas voltam aos seus lugares, mundo real dói, o mundo da menina é só dela. Entendeu então que é mais difícil dividir as coisas, mas é mais sábio. Entendeu que as pessoas tem histórias muito diferentes da sua, e você não as entende, assim como as pessoas não entendem a sua.
Sem "Por Que?", "Como?", "Onde?". Ela apenas é a guria que perdeu as chaves do seu mundo, só ela vê as cores e a intensidade dele. Não é menina, nem guria. É a Júlia, aquela que tem um nome comum, que você não vê nada de diferente. Mas que esconde um segredo, que na verdade nem dela é: "Só se vê bem com o coração."

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